Marula Di Como é artista plástica. Seus passos pelo mundo do vídeo experimental ocorreram principalmente nos anos noventa, em parte, graças ao Grupo multimídia Asperges, com o qual participou em diferentes exibições no Instituto Goethe de Buenos Aires e no Instituto de Cooperação Iberoamericana (ICI), que naquela época eram centros legitimadores da produção e vídeo arte no país. Este vídeo foi exibido, entre outros, no Museu de Arte Moderna de Buenos Aires (MAMBA, 2008) e na exposição “Arte de pantalla”(“Arte de tela”) (Anses, Buenos Aires, 2007), sendo esta a primeira vez exibida no Brasil. A obra que apresentamos está baseada em uma fusão entre umas frases de Roberto Bolaño de sua novela intitulada Amuleto (1999) e um fragmento de um conto de Rodrigo Fresán que foi editado em La velocidad de las cosas (1998) . A união de ambos os discursos, que aparecem escritos de forma fragmentária na tela, é acompanhada por um plano sequência que percorre lentamente a topografia de um terreno enquanto a música extra-diegética com tonalidades asiáticas do grupo Transglobal underground (especializado precisamente em “música fusão” de diferentes partes do mundo) acompanha o movimento. A artista assim nos propõe, a partir da contemplação das texturas da terra e do poder da palavra, realizar uma viagem introspectiva pelas sendas onde a vida nos leva, com a esperança de que seja uma pastagem compartilhada. Parafraseando Agamben, os pontos suspensivos finais nos incitam a pensar uma possível mudança na composição de nossos relatos onde ao andar se faça caminho e “a primeira pessoa do singular” vire plural.
Clara Gravarelli